terça-feira, 16 de agosto de 2016

Chuva de Ouro

Tilintar da chuva no Engenhão, um obstáculo a mais
Heróis da final do salto com vara prontos pra voar
Impecável francês Lavilenie era o mito a ser batido
A preparação de uma vida colocada na ponta do bastão
Girando no ar, Thiago ultrapassou todas as barreiras
O brasileiro já era prata, mas a glória seria maior

Bateu recorde olímpico com 6,03m e desafiou o francês
Resvalada no sarrafo e a torcida vibrou o impossível
A nossa criatividade com o toque de gênio de Petrov
Zebra marcada por juventude, coragem e brasilidade

domingo, 14 de agosto de 2016

Volta por Cima

“Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui. Percorri milhas e milhas antes de dormir...” Realmente é impossível saber tudo o que um atleta brasileiro, sobretudo num esporte individual, percorre até chegar a uma participação olímpica. No caso do Diego Hypolito, o Brasil pode acompanhar uma boa parte da trajetória dramática. Diego viu o seu favoritismo literalmente desabar no chão em Pequim-08 e Londres-12. O sonho olímpico virou pesadelo, mas aí tudo que eu disse no texto do basquete vale para o nosso ginasta, mas de maneira inversa: ele já levou todos os tombos possíveis de amadurecimento e foi justamente em casa que veio a saborosa hora de colher os frutos. Desta vez ele não era o favorito, mas ele foi trilhando o seu caminho com serenidade. Primeiro, garantiu a vaga na equipe brasileira e o direito de participar da festa em casa; depois ajudou o Brasil na competição por equipe e garantiu vaga na final do solo; e aí na sua última apresentação, Diego cicatrizou todas as feridas abertas numa prata redentora. O orgulho nacional transborda não só por Diego, mas também por Arthur Nory, bronze na primeira participação olímpica. Até agora, com certeza a ginástica era a modalidade que vinha mostrando a maior evolução e aproveitando o fator casa, mas ainda faltava a medalha. O fim do tabu veio no plural, inesquecível dobradinha de prata e bronze. Diego homenageia toda a geração precursora da ginástica brasileira e Arthur é a certeza que o sonho continua, mas agora não tem passado nem futuro, ambos são presente vencedor.

Nem sucesso, nem fracasso

“Errei mais de 9.000 cestas e perdi quase 300 jogos. Em 26 finais diferentes de partidas fui encarregado de jogar a última bola que venceria o jogo... e falhei. Eu tenho uma história repleta de falhas e fracassos em minha vida. E é exatamente por isso que sou um sucesso”.  A declaração acima explica uma pouco de como Michael Jordan se transformou no maior de todos. A declaração acima explica porque o Brasil não conseguiu vencer ontem a Argentina. A geração dourada da Argentina não tem mais a vivacidade que levou a ganhar dos EUA em Athenas-04, mas tem um trio (Nocioni, Scola e Ginóbili) capaz de fazer a última bola perante qualquer equipe. Essa segurança tira toda a pressão e deixa que os talentos da nova geração surjam naturalmente – Campazzo, de 25 anos, terminou com 33 pontos e talvez foi o jogador mais decisivo ao longo da segunda prorrogação que sacramentou a vitória dos hermanos. O Brasil infelizmente não conseguiu construir essa referência na geração de Huertas, Leandrinho, Varejão e Nenê. O Brasil teve a bola do jogo para virar, mas errou na bandeja de Alex. E realmente o “Brabo”, ao lado de Marquinhos, talvez seja o jogador do Brasil mais acostumado a chamar a responsabilidade para si nos momentos de decisão, mas sempre em clubes, sempre ao nível do NBB. Com a camisa do Brasil na maior competição padrão FIBA, a história é outra. A derrota para a Argentina não foi construída ontem. O fato de o Brasil ter ficado fora de três Olimpíadas eliminou qualquer chance de equiparação com os vizinhos e as outras potências europeias. Assim como o Brasil, a Espanha também estava ontem com a corda no pescoço. A diferença é que Gasol e cia. transformaram a pressão em cestas e construíram uma vitória de 50 pontos contra a Lituânia, até então invicta. Após a derrota do Brasil eu não tinha nenhuma condição racional de escrever qualquer coisa. Nada como uma noite de sono para acalmar os sentimentos. Não é hora de crucificar ninguém. Se o Brasil cometeu algum erro não foi na última bola. O que faltou talvez foi ter perdido para Croácia e ter deixado a Argentina chegar na última bola do jogo com chances de ganhar – a bola “mágica” de três de Nocioni no cantinho da quadra é um pesadelo que não será esquecido. O fato que o Brasil até tentou suprir esse fato de “experiência internacional” trazendo o técnico Magnano, justamente o condutor da Argentina na façanha de Athenas-04. Sou fã do argentino e acho que ele cumpriu bem a sua função, mas tal como numa relação pai e filho, experiência não se passa, se vive.  De tudo isso, o que lamento é que a geração de Nenê chegou muito tarde a esse período de aprendizado pela dor e provavelmente não conseguirá fechar o ciclo da volta por cima. Resta torcer para que a transição na seleção brasileira seja muito bem feita. Se tiver continuidade, Raulzinho, Benite, Augusto Lima, Cristiano Felício choraram ontem, mas podem sorrir amanhã não só por eles, mas por toda essa geração de Nenê, Leandrinho e Varejão. Esses caras levaram a nossa bandeira para dentro da NBA e merecem nosso eterno respeito!