A derrota por quase 30 pontos
para a Sérvia dói, mas não pode ser analisada isoladamente. É triste saber que
uma das gerações mais talentosas do basquete brasileiro perdeu, provavelmente, a
última grande oportunidade de conquistar uma medalha em Mundial e/ou Olimpíadas
– tenha talvez uma chance derradeira no Rio-2016, mas acredito que esse grupo
já vai estar na descendente. E, dessa vez, o sonho de medalha era realmente
possível. O pior foi, ao final da partida, ver a relação do resultado de hoje
com o vexame da goleada para a Alemanha na semifinal da Copa. A comparação é
muito superficial e injusta. São situações completamente distintas. Diferentemente
do 7 a 1 do futebol brasileiro, que realmente foi um grito de “pára tudo e
vamos recomeçar”, a eliminação por um placar tão elástico do basquete
brasileiro não pode ser encarada como se o trabalho não estivesse sido bem
feito. Vou dividir a minha análise em dois momentos: o jogo de hoje em si e o
basquete brasileiro como um todo. Da derrota para a Sérvia acho que quatro
fatores foram responsáveis pelo resultado: 1) A vitória contra a Argentina,
ainda mais por uma diferença de 20 pontos, deixou inevitavelmente a equipe “mais
relaxada”. 2) Acho terrível enfrentar no mata-mata uma equipe da qual já
ganhamos na primeira fase da mesma competição. Pode dar a falsa sensação de que
o resultado já está garantido. 3) Por mais que o Brasil terminou a primeira
fase com apenas uma derrota e ganhou bem da Argentina, todos sabiam que o
terrível “apagão” da nossa seleção continuava por aí e que se ele resolvesse aparecer
num jogo eliminatório poderia ser fatal. 4) Verdade seja dita, a Sérvia teve
uma jornada impecável. Mesmo antes do nosso “apagão”, eles estavam na frente e
dificilmente não sairiam hoje da quadra com a vitória. Em relação ao basquete
brasileiro, acredito que seguimos num processo de retomada depois de ter
chegado ao fundo do poço. Muito se fala que o Brasil afundou depois de não
conseguir a vaga para três Olimpíadas seguidas (Sidney-00, Athenas-04 e
Pequim-08). Isso não foi a causa e sim a consequência. Acho que o grande buraco
no basquete brasileiro vem dos tempos de Oscar e Marcel, que consolidaram uma
cultura individualista no nosso basquete. Paralelo a isso, o contexto
geopolítico não ajudou: a separação da União Soviética e da Iugoslávia
transformou duas potências da bola laranja em cinco ou seis – ganhar uma
medalha hoje é muito mais difícil do que há 30 anos. Conseguir enfrentar todas
essas adversidades numa única geração é uma missão quase impossível. Assim,
acho que o grande mérito da geração de Huertas, Nenê, Splitter, Varejão, entre
outros, é não ter deixado que o basquete brasileiro acabasse e, ao mesmo tempo,
foi o grupo que abriu verdadeiramente as portas da NBA e da Europa para nossos
talentos. Não estou falando que eles foram sacrificados e não têm culpa de nada.
Cometeram seus erros também, mas a verdade é que deram a volta por cima.
Acredito que todo esse processo de retomada do basquete brasileiro está
chegando ao limite: ou chega os primeiros grandes resultados para sustentar as
mudanças que ainda precisam ser feitas ou vamos paralisar neste patamar mediano.
Eu acredito que o basquete brasileiro
ainda vai fazer muita gente sorrir, mas algumas coisas precisam ser feitas. A
primeira é consolidar o NBB. A competição nacional cresce a cada ano.
Conseguimos “repatriar” grandes jogadores como Alex, Marquinhos, Hettsheimeir e
bons estrangeiros vêm desembarcando ano, após ano. Resultado disso é que, ao
contrário da seleção, equipes brasileiras, como Flamengo, Pinheiros e Brasília,
voltaram a ganhar competições internacionais. Juntando tudo isso à Liga de
Desenvolvimento, acredito que podemos voltar a ter um consistente processo de
formação de atletas – é na quantidade que brilha a qualidade. A segunda, e
talvez a mais importante, é fazer uma transição muito bem feita na seleção
entre a geração de Huertas, Nenê Splitter e Varejão com a dos promissores
Raulzinho, Bruno Caboclo, Lucas Bebê e Augusto Lima. Neste ponto, acredito que
o Magnano continua a ser a pessoa mais indicada a liderar esse delicado
momento. Ainda faltam alguns degraus (a derrota de hoje vai doer por um bom
tempo), mas é visível a mudança de postura do Brasil desde a chegada do
argentino campeão olímpico. Enfim, a derrota de hoje é cruel, mas existe um
alicerce por baixo que precisa ser mantido. Já no 7 a 1 não sobrou muita coisa
em pé....
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
domingo, 7 de setembro de 2014
Dia da Independência
Eu pressentia que a “freguesia” contra a
Argentina terminaria hoje. Só não sabia que o “Grito da Independência” viria
tão arrebatador com uma vitória por 20 pontos. Além de anular o “carrasco”
Scola, o Brasil teve paciência para saber jogar atrás por todo o primeiro tempo
da partida. Uma conquista como essa é coletiva, mas se todo fato histórico tem
que ter um protagonista o de hoje atende por Raulzinho, que de “inho” não teve
nada - hoje ele calou a todos os críticos, inclusive eu, que acreditavam que ele não deveria estar no Mundial. Sorte que o Magnano foi teimoso. E o mais importante foi a frase do craque ao final do jogo: “Não viemos para o Mundial para ganhar da Argentina”.
Ou seja, é sempre muito bom ganhar dos Hermanos, passa a ser um marco para essa
geração, mas o real objetivo ainda não foi atingido: a medalha. O próximo passo
agora é contra a Sérvia. O fato de ter ganhado na primeira fase não torna a
tarefa mais fácil, muito pelo contrário. Pode dar a falsa impressão de que a
partida já está garantida. É outra história. Que os nossos guerreiros entrem
focados como entraram hoje e aí sim a disputa pela medalha vai ser um sonho
real. Depois de tudo que essa geração percorreu acho que estão todos prontos
para a “Grande Jornada”, aquela competição que vai marca-los para sempre. Vamos
que vamos. Enfim, um 7 de Setembro para realmente comemorar!
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