segunda-feira, 16 de maio de 2016

Saque de Ouro

Até Barcelona-92, o Brasil ganhou sete ouros
Mas todos a partir de conquistas individuais
Ainda faltava mostrar a força do nosso coletivo
Unidos pelo sonho mosqueteiro de todos por um
Resplandeceu em quadra um grupo guerreiro
Inspirados pela geração de prata, queriam mais

Curioso que o Brasil já era campeão mundial
Amarelinha tri no futebol e bi com o basquete
Respeito que não se repetia nas Olimpíadas
Lá, nossas maiores conquistas vêm do Vôlei
A conquista na Espanha foi apenas a primeira
Orgulho que seguiu com homens e mulheres

Depois da prata nas Olimpíadas de Los Angeles
O nosso vôlei passou a ser conhecido lá fora
Uma equipe de respeito no meio de tantas outras
Grande favorito em Barcelona era a super Itália
Líderes do grupo A, os italianos pareciam Ouro
Até que na fase seguinte barraram na Holanda
Sem os mais temidos, o Brasil seguia seu rumo

Ganhamos de todos na primeira fase na chave B
Impecável contra o Japão nas quartas-de-final
Os EUA vieram na semifinal como bicampeões
Vingar a derrota em 1984 e garantir nova final
A chance era única e nossa impecável seleção
Não desperdiçou a oportunidade de triunfar
Eis que faltava o último degrau, o mais difícil

Já falaremos da final, antes é tempo de lembrar
As regras de então, fazia do vôlei outro esporte
Ninguém sabe hoje o que é a tal da vantagem
Era bem mais difícil e longo para marcar ponto
Líbero é coisa moderna, antes todos defendiam
Sacavam, cortavam, passavam, bloqueavam
O set acabava em 15 e a novidade em 92 era
Não ter vantagem no 5º set, famoso tie-break

Jejum de um ouro coletivo estava perto do fim
O último obstáculo era a Holanda de gigantes
Ron Zwerver estava sendo o melhor jogador
Grande responsável pela eliminação da Itália
Era preciso todo cuidado para parar a estrela

Mas o nosso segredo era justamente o coletivo
A disciplina tática com a ginga de nosso povo
Um primeiro set bem disputado, decidido no fim
Raça brasileira venceu a frieza dos holandeses
Impressionante 15 a 12 depois de uma batalha
Confiantes, seguimos jogando bravamente
Impulsionado pelo canto de paixão da torcida
O Brasil também levou o segundo set, 15 a 8

Nada podia deter nossos meninos neste dia
E ponto a ponto, a vitória foi se costurando
Gigantes da Holanda tentavam reagir, virar
Resistiam, mas não tinha mais o que fazer
A certeza no ataque era pancada de Negrão
O ponto final quis o destino que viesse dele

Potência explosiva no saque bruto de Negrão
Ai, ai, ai, ai, ai, em cima, embaixo, puxa e vai
Maurício, toque celestial nas levantadas do time,
Podia enfim correr para abraçar o irmão na torcida
Ave o versátil Giovane, completo defesa e ataque

Para consagrar essa geração vitoriosa, viva Tande
Alegre, técnico, inteligência emocional em quadra
Um toque de vigor gaúcho nas mãos de Paulão
Lá em cima, na ponta dos dedos, preciso bloqueio
A garra de Carlão inspirava um grupo ainda jovem
O legítmo capitão, austero mas também “Paizão”

Todos os reservas contribuíram quando chamados
Amauri, único que já era prata, subiu um degrau
Levava o ouro não só para si, mas para um grupo
Montanaro, Renan, Willian Xandó, Bernardinho
O triunfo na Espanha tinha muito dos precursores

Talmo era seguro quando Maurício ia descansar
A força bruta de Janelson desorientava a defesa
Não tem como esquecer o obstinado Jorge Edison
Direto de Pernambuco para o Mundo, salve Pampa
Em Douglas a serenidade eficiente que veio somar

Zerando medos, acrescentando equilíbrio ao sonho
É de Zé Roberto o toque final a um ouro de todos